sábado, 16 de fevereiro de 2013

Praticando o Morfema Zero

Primeiramente, precisamos entender o que é um morfema zero. Ele significa a ausência de alguma marca em uma palavra. Pode ser ausência da marca de pessoa, de gênero, número. Mas para identificarmos um morfema zero precisamos prestar atenção em alguns detalhes, tais como Kehdi, 1999, nos mostra:
1. é preciso que ele represente um espaço vazio;
2. precisa da comparação com outra palavra para reconhecer sua ausência de marca;
3. a noção expressa pelo morfema zero deve ser inerente a classe gramatical do vocábulo analisado.

Com base nessa pequena explicação do morfema zero, vamos exercitar através de charge!


A charge acima faz uma crítica a falta de ética, usufruindo do ambiente escolar para desenvolver essa ideia. O criador da charge evidencia ausência através da fala do aluno "roubaram o giz, professora".

Agora, vamos analisar os morfemas zero que compuseram a charge.
A palavra "escreva" é um verbo, podemos contrapor com o outro verbo "escrevam", percebemos que existe uma ausência de morfema, enquanto temos o morfema {-mos} do outro verbo. Já no segundo verbo "roubaram" percebemos a presença de morfema {-am} ao compararmos com roubou que tem morfema zero para número-pessoa e de modo-temporal (sugiro que tenham em mãos a tabelinha que Kehdi nos disponibiliza em seu texto Morfemas do Português).

Agora, vamos falar sobre o substantivo "professora", ao compararmos com professor, percebemos a presenta do morfema {-a} indicando o genero feminino e ausencia de marca de plural, determinando sua singularidade.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Exercitando com a charge...

Hoje minha opção foi a charge. Elas foram criadas no século XIX por pessoas opostas ao governo e críticos políticos com o objetivo de satirizar, através de uma caricatura, algum acontecimento atual. A palavra charge tem origem francesa charger e significa carga/exagero. É considerada uma crítica político-social onde o artista expressa sua opinião sobre determinadas situações.


Nesta charge, Benett utiliza recursos visuais e verbais para nos transmitir sua crítica a respeito dos horários políticos, argumentando que é melhor assistir a um desenho animado ao ter que assistir os horários políticos, ou seja, critica a política de um modo geral.

Podemos aplicar ainda os conceitos que apresentei nas postagens anteriores...
O verbo interrompemos vem do infinitivo interromper. Assim, percebemos o acréscimo de morfema, ou seja,  morfema aditivo.

Façamos a conjugação:


Perfeito do Indicativo:

eu interrompi
tu interrompeste
ele interrompeu

nós interrompemos

vós interrompestes
eles interromperam

Segundo a tabelinha explicativa de Valter Kehdi, as cinco primeiras pessoas são isentas de desinências modo-temporais. E a primeira pessoa do plural é composta pela desinência [-mos] que denota a desinência número- pessoais, neste caso, marcando a pluralidade.


domingo, 27 de janeiro de 2013

Morfemas

Nesta aula, apresentarei as classificações de morfemas.

Morfemas aditivos: São os que se anexam a um núcleo (geralmente, o radical). Ex: afixos, vogais temáticas e desinências. Eu considero que são os que auxiliam na formação de uma palavra, tomando como base um mesmo radical. Por exemplo: 

Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta. (OTM)

Nesta palavra, observamos o acréscimo do sufixo [-ininho], formando uma nova palavra através do radical [pequen-].

Obs: Também temos morfemas aditivos em verbos, é o que vimos há dois posts atrás.

Morfemas Subtrativos: Como o próprio nome diz, é a supressão de um fonema do radical. 
Ex: anão/anã.

Percebo esses morfemas recorrentes na linguagem informal, onde as pessoas não falam algumas desinências, deixando de concordar com partes da frase. 

Morfemas Alternativos: Substituição de fonemas considerando um mesmo radical.
Ex: avô/avó.

Morfemas Reduplicativos: Essa reduplicação da parte inicial do radical ocorre frequentemente no período da aquisição da linguagem, onde as crianças precisam dessa repetição para seu aprendizado. Por isso, temos a profissão babá, que mostra exatamente essa relação. A reduplicação da parte inicial e a profissão que se remete as crianças.
Outros exemplos: Papai, mamãe, vovó.

Morfemas de posição: Aqui, não temos nem acréscimo e sem substração de segmentos. Apenas nos dá suporte para a posição dos termos. Essa muito utilizada em textos jornalísticos, pois é uma técnica que ajuda na topicalização daquilo que se quer evidenciar.

Vejamos o exemplo para melhor compreensão:

Ex: Luciana matou a fome. (Voz ativa) / A fome foi morta por Luciana. (Voz passiva analítica)

Percebeu a diferença? Além de gramaticalmente diferente, semanticamente também é, apesar de não parecer de imediato. Coloquei aquilo que quis evidenciar em primeiro lugar dando assim uma hierarquia de importância dos termos (Luciana e A fome).


Vogal Temática

Darei uma rápida explicação de como encontrarmos a vogal temática de uma palavra. Vamos lá!

Primeiramente, elas se dividem em:


  • Vogal temática nominal;
  • Vogal temática Verbal.
Primeiramente, observe que a posição prototípica, ou seja, mais usual da palavra é: 

Radical - Vogal temática - Desinência

Para identificarmos as vogais temáticas nominais precisamos compreender que servem para marcar classes de nomes e verbos. Em Português, as VT são: {-a}, {-e}, {-o}.

Obs: Não podemos confundir as VT`s com as desinências de gênero (explicadas em ports anteriores).

Para que isso não ocorra com você, entenda que nas VT`s não ocorrem comutação na mudança de gênero  ao contrário das desinências de gênero. Para ficar mais claro, observe: 

Tente colocar a palavra livro no feminino: Livro - Livra. Sabemos que não existe o substantivo livra, por isso, estamos diante de uma vogal temática.

Se fosse a palavra menino. Colocando no feminino, teríamos a palavra menina. Neste caso, estamos diante de mudança de gênero, já que existe o substantivo menina.

As vogais temáticas verbais, expliquei no post anterior. Se tiverem dúvidas, deixem um comentário abaixo.

Continuando...

Ainda temos as variações da vogal temática. Dividirei em 2 processos:

  • Elisão;
  • Crase.

 Por exemplo, nas palavras:

Luto - Lutuoso 

Aqui, ocorrei o processo de elisão, pois continuamos com a Vogal temática [-u]. Veja que houve a transformação de [-o] para [-u-], pois o sufixo começou por vogal [-oso].

Agora, vejamos as palavras:

Carinho - Carinhoso

Aqui, percebemos que houve o processo que crase, já que o sufixo [-oso] inicia com a mesma vogal da vogal temática da primeira palavra. Por isso, concluímos que no processo de crase, a vogal temática deixa de existir.

Encerramos este assunto por aqui. Simples, né?



Desinências Verbais

As desinências verbais são divididas em:


  • Modo e tempo (modo-temporais);
  • Número-pessoa (número-pessoais).

Para encontrarmos essas características em um verbo, é importante que os conjuguemos. Darei um exemplo para que fique mais claro, e neste exemplo, usaremos técnicas que expus em postagens anteriores. Vamos lá!

 O verbo amar

Primeiro passo: Conjugue-o no tempo verbal desejado, por exemplo, no pretérito perfeito do indicativo.

Eu amei
Tu amaste
Ele amou
Nós amamos
Vós amastes
Eles amaram

Segundo passo: Observe o termo que se repete em todas as conjugações e separe o radical. [am-]. Feito isso, observe que sobrou uma parte modificativa do verbo que se diferencia em cada conjugação. Nela encontraremos a vogal temática e as desinências.

Obs: É importante observarmos que em alguns casos não haverá a desinência modo-temporal.

Terceiro passo: Marque as vogais temáticas. Estas que segundo Valter Kehdi, 2009, são acrescidas normalmente ao radical. formando uma base para anexar a desinência. Neste caso, fica fácil de identificá-las! (marquei em vermelho).

Quarto passo: Este é nosso último passo. Nesta conjugação, observamos na tabelinha do texto Morfemas do Português de Valter Khedi, 2009, pag. 32 e 33, que nas cinco primeiras pessoas, a desinência modo-temporal é nula; e para a terceira pessoa do plural a desinência modo-temporal é [-ra-] (grifo em verde). Já as desinencias numero-pessoais estão presentes em todas as pessoas. (grifo em rosa).

domingo, 13 de janeiro de 2013

Exercitando com o poema




Poética


De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

Vinícius de Moraes

Hoje escolhi outro gênero literário: o poema. 

Aqui, Vinícius de Morais brinca com as palavras e com a noção de tempo, fazendo do óbvio algo inesperado. Consigo com através dessa ideia, fazer uma analogia com sufixos e desinências. Pois as desinências são óbvias, elas que farão a concordância da frase e por isso, necessitam estar em acordo com seu elemento principal. Já os sufixos inovam o texto a medida que modificam uma palavra dando a elas novos significados.

Fazendo uma análise de alguns trechos, como O este é meu norte encontramos o artigo o e o verbo é concordando em gênero (masculino) e número (singular) com o substantivo este. Bem simples, né?

Além disso, observamos a palavra norte, que é uma palavra masculina, porém terminada em -e. Porém também temos a palavra feminina tarde, também terminada em -e. Isso nos mostra que a terminação em -e não significa um traço masculino.

Desinências de gênero e número

Dando continuidade às desinências, estudaremos sua subdivisão em gênero e número.

As desinências de gênero se subdividem em:

- Flexão: Masculino - Feminino (ex.: garoto - garota)
- Derivação: Acréscimo de sufixo (ex.:conde - condessa)
- Heteronímia: Masculino - Feminino constituídos por dois vocábulos diferentes. (ex.:abelha - zangão)

O escritor Kehdi, 2012, propõe uma discussão em torno da flexão, pois é um tema recorrente atualmente, principalmente depois do mandato da presidenta Dilma Rousseff, quando declarou sua vontade de que as chamassem de presidenta

Afinal, existe uma flexão própria de masculino e feminino?

Não podemos considerar que -o é marca de masculino por opor-se a -a, pois esse raciocínio nos levaria a conclusão de que o -e também seria masculino já que se opõe a -a. O que não se aplica, pois temos as palavras  a fonte (feminina)
              o poste (masculina)

Na discussão, o escritor então traz Mattoso Câmara, que propõe uma reflexão interessante a respeito da oposição entre feminino e masculino. Ele considera o masculino como forma desprovida de flexão específica, em oposição ao feminino, caracterizado pela flexão em -a. Mas essa reflexão também causa conflitos já que quando acrescentamos a vogal o a uma palavra feminina, torna-se masculina, ex: boca - bocão/ casa - casarão.

A desinências de número subdividem-se em:

- Singular: caracteriza-se pelo morfema Ø
- Plural: caracteriza-se pelas desinências s/es (ex: casas, cartazes)

Atenção!
  • Paroxítonos terminados em -s, permanecem invariáveis no singular e plural. Ex: lápis (alomorfe  Ø) - o lápis/ os lápis;
  • Temos os proparoxítonos invariáveis, tais como: óculos, bíceps, tríceps, etc.

Dessa forma, concluo a teoria deste assunto. Na próxima postagem iremos colocar as assimilações adquiridas deste conteúdo em prática!